Talvez ela só percebesse nossa presença quando éramos motivo de dor — especialmente quando algum de nós se machucava ao bater em algo. Nos últimos dias, recebemos mais atenção por causa de um incidente na piscina: ela bateu o dedinho do pé direito na raia, o que causou um corte profundo e de difícil cicatrização.
Fomos então alvo de todo cuidado e carinho do mundo — curativos, óleos essenciais, palavras afetuosas. Para ela, talvez não estivesse bom, mas nós nos sentimos muito bem cuidados. Nossa história — sim, somos inseparáveis — é longa! Quarenta e dois anos de aventuras: terra, cimento, pisos variados, areia, água, grama… ela gosta de nos levar a lugares diversos.
Será que a levamos ou é ela que nos leva? Talvez os dois. Não decidimos nosso destino, mas participamos ativamente da rotina dela. Antes, éramos colocados em sapatos fechados ou sandálias de salto quase todos os dias — às vezes, um tênis para se exercitar e, ao final do dia, chinelos para descansar.
Houve uma mudança em sua vida que nos tornou mais livres. Agora, somos melhores amigos do chinelo e andamos menos apertados. Ela também passou a nos levar para passear na grama. Quando vai ao parque, tira o tênis e as meias e caminha descalça. Podemos sentir a relva, e às vezes até o orvalho.
Ela então se senta no chão para descansar. E nós continuamos a relaxar. Será que ela tem ideia de como é importante para nós esse simples ato de nos deixar conectados à natureza? Talvez saiba, pois tem nos dado esse presente toda semana! O que é bom para nós, é bom para ela: pés na grama! Alguns chamarão de aterramento, outros, de conexão com a Mãe Terra.